Quer Abrir ou Investir em uma Startup? Então Você Precisa Conhecer Isto!

15 de dezembro de 2023

1 – Introdução

Já é senso comum o de que as startups operam em ambientes de extrema incerteza desde sua concepção, onde buscam resolver problemas reais e relevantes, a procura de um modelo de negócio repetível e escalável, geralmente de modo muito enxuto e com recursos muito limitados.

No lado oposto, também temos empresas sólidas e consolidadas, com processos e padrões moldados por muitos anos, que facilitam a gestão. Contudo, quando estas empresas passam por momentos de crise elas gastam um tempo de adequação muito alto, devido aos entraves burocráticos formados por anos a fio, que dificultam ou até impedem elas de buscarem uma rápida adaptação ao mercado.

Um dos principais focos das startups, se não for o principal, está justamente em resolver de forma muito específica e assertiva o problema do seu cliente ou usuário. Em momentos de crise esses problemas podem variar, mudar, crescer ou mesmo perder intensidade. Dessa forma a solução de diversas empresas pode perder o seu valor por não serem essenciais para o cliente.

Sabe-se que a gestão de startups, ou a falta dela, está entre as principais causas de mortes prematuras de negócios inovadores e potencialmente escaláveis. Fazer gestão de startups é um trabalho interno, pouco glamouroso e nem sempre com resultados imediatos, o que exige autodisciplina e métodos ágeis.

Nesse sentido, apresentaremos neste artigo um resumo do modelo de gestão de startups desenvolvido por Eric Ries, o qual ele denominou de Lean Startup (ou Startup Enxuta). Conhecer esse modelo de gestão, que caiu nas graças das empresas da chamada “nova economia”, é de extrema importância, porque faz cair por terra a lógica de negócios mais tradicionais.

2 – O que é uma Startup

Segundo Blank (2013), Startups são organizações temporárias usadas para procurar um modelo de negócios repetível e com alta escalabilidade. Esta busca por modelos de sucesso é bastante volátil, tanto para os empreendedores como para os investidores.

Outra definição, agora dada por Ries (2019), é a de que startups são instituições humanas desenhadas para entregar um novo produto ou serviço sob condições de extrema incerteza. As incertezas são múltiplas, de natureza tecnológica, financeira, mercadológica, macroeconômica, de encaixe entre a oferta criada e necessidade dos consumidores, de condições e forma de gerenciamento, entre outras.

3 – O que é uma Startup Enxuta

De acordo com Ries (2019, p. 28-29), o nome “startup enxuta” vem “da revolução promovida pela manufatura enxuta, sistema desenvolvido na Toyota, por Taiichi Ohno e Shigeo Shingo. O pensamento enxuto (lean) tem alterado radicalmente as cadeias de suprimentos e os sistemas de produção. Entre seus princípios estão o aproveitamento do conhecimento e da criatividade dos trabalhadores, a redução do tamanho dos lotes, a produção e controle de estoque just-in-time e a aceleração dos tempos de ciclo. O lean ensinou ao mundo a diferença entre atividades criadoras de valor e as de desperdício, e mostrou como agregar qualidade nos produtos de dentro para fora”.

Ainda, segundo este autor, a “startup enxuta adapta essas ideias para o contexto do empreendedorismo, propondo que o progresso seja avaliado de modo diferente de como acontece em outros tipos de empresa. Na indústria, o progresso é medido pela produção de bens físicos de alta qualidade. (…) a startup enxuta usa uma unidade de progresso diferente, chamada de aprendizagem validada. Tendo como parâmetro o método científico, podemos descobrir e eliminar as fontes de desperdício que afligem o empreendedorismo”.

Portanto, o modelo startup enxuta orienta as pessoas a começarem a avaliar sua produtividade de outro modo, não tradicional. Como muitas vezes as startups desenvolvem por acidente algo que ninguém deseja, não importa muito se isso é feito no prazo certo e dentro do orçamento.

Segundo Ries (2019, p. 31), o objetivo de uma startup “é descobrir, o mais rápido possível, o produto certo a ser desenvolvido – aquilo que os clientes vão desejar e pelo qual vão pagar. Em outras palavras, a startup enxuta é um novo modo de olhar o desenvolvimento de produtos inovadores, enfatizando a iteração rápida e a percepção dos clientes, uma visão gigantesca e uma grande ambição, tudo ao mesmo tempo”.

4 – Os Cinco Princípios da Startup Enxuta

O incansável trabalho de Eric Ries, em elaborar um modelo de gestão para as startups, culminou com a publicação do seu livro “A Startup Enxuta”, leitura que eu considero obrigatória para aqueles que pretendem abrir ou investir em uma startup. Neste livro, ele descreve os cinco princípios da startup enxuta, que perpassam todas as três partes do livro. Estes princípios são os seguintes:

  1. Os empreendedores estão por toda parte: não é preciso trabalhar numa garagem para fazer parte de uma startup. O conceito de empreendedorismo inclui qualquer um que trabalhe no âmbito da definição daquilo que Ries chama de startup: “uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços sob condições de extrema incerteza”. Isso significa que os empreendedores estão em todo lugar e que o modelo startup enxuta é aplicável a empresas de qualquer tamanho, até nas muito grandes, e em qualquer ramo.
  2. Empreender é gerenciar: uma startup é uma instituição, não apenas um produto, por isso exige um novo tipo de gestão, equipado especificamente para o contexto de incerteza extrema. Na verdade Ries acredita que “empreendedor” deveria ser considerado um cargo em todas as empresas modernas que dependem de inovação para crescer.
  3. Aprendizagem validada: as startups existem não somente para produzir bens, gerar dinheiro ou mesmo atender aos clientes, mas também para aprender a construir um negócio sustentável. Essa aprendizagem pode ser validada cientificamente por meio de experimentos frequentes que permitam aos empreendedores testar cada elemento de sua visão.
  4. Construir-medir-aprender: a atividade fundamental de uma startup é transformar ideias em produtos, avaliar a reação dos clientes e, a partir daí, concluir se deve pivotar (mudar) ou perseverar. Todos os processos bem-sucedidos devem ser empregados para acelerar esse ciclo de feedback.
  5. Contabilidade para inovação: para melhorar os resultados do empreendedorismo e manter os inovadores prestando contas, é preciso se concentrar nas tarefas tediosas: medir o progresso, estabelecer marcos e priorizar o trabalho. Isso exige um novo tipo de contabilidade, específico para, e para as pessoas a quem elas devem prestar contas.

5 – Considerações Finais

Esses cinco princípios são o resumo da resposta, encontrada por Ries, para solucionar a seguinte pergunta: por que vemos tantas startups fracassando por toda parte?

E nada mais oportuno do que encerrar este artigo utilizando as próprias palavras de Ries (2019, p. 13), que afirma o seguinte: “aprendi com meus sucessos e fracassos e com os de muitas outras pessoas, que o mais importante são justamente as partes chatas. O sucesso de uma startup não é consequência de bons genes ou de estar no lugar certo na hora certa. O sucesso de uma startup pode ser alcançado seguindo-se o processo correto, que pode ser aprendido e, portanto, ensinado”.

Para quem desejar aprofundar mais o conhecimento sobre este tema, sugerimos a leitura do livro deste autor, citado neste artigo.

Autor: Dailson Régis Prati

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Blank, S. The Four Steps to the Epiphany: successful strategies for products that win. 5th ed. Pescadero: K&S Ranch Press, 2013.

Ries, E. A Startup Enxuta (e-book). Rio de Janeiro: GMT, 2019.